sábado, 10 de julho de 2010

Visão de Jogo


O Nosso Futebol, a reunião de crônicas escritas por Fernando Calazans, fez ressurgir um pensamento ou fato que é presenciado a cada pós-jogo: as diferentes, ou não, visões de jogo que cada um possui diante de uma mesma partida. Antes de adentrar esse assunto, é importante frisar que as Copas abordadas no livro, 90 e 94, são as mesmas Copas que acompanhei [eu acho], o que pode facilitar ou não este ''diálogo''.

Um coisa que não posso discordar do Calazans é o sentimento fúnebre para com o futebol brasileiro na Copa de 90. Nas Copas anteriores, 82 e 86, o Brasil demonstrou um estilo de jogo que foi aclamado por uma grande maioria, que se inclinava muito mais a para a leveza das jogadas de efeito do que para a força e obediência tática, o que no fim das contas não trouxe ''resultados''.

Com meus exatos 3 anos de idade, a Copa de 90 me dá a impressão de ou ter sido acompanhada jogo após jogo ou de ter sido reinventada, até os dias de hoje, pelo número de fotos de família, dos jogos vistos e revistos assim como o fatídico lance onde Maradona arranca do meio de campo, lança Caniggia que dribla Taffarel e empurra para as redes. Sem muito esforço eu consigo me ver na sala daqui de casa olhando e tentando entender um pouco mais sobre a desolação dos meus tios que só tinham visto o Brasil campeão em 70.

Não sei se por falta de memória ou pelo fato de realmente concordar, concordo com tudo escrito sobre a Copa da Itália, mas isso muda quando o assunto é a Copa de 94 nos Estados Unidos.

Bem, a cada partida da Copa de 94 eu me empolgava mais e mais com os jogos e com as vitórias da seleção. Revendo os lances de alguns jogos, em especial as oitavas e quartas, contra Estados Unidos e Holanda respectivamente, segurei pra não chorar de alegria.

O fato é que Calazans e muitos outros cronistas comentavam sobre o caráter defensivo do time de Parreira. Na crônica as duplas da seleção, onde Parreira-Zagalo eram a dupla responsável pela defesa e Bebeto-Romário, sem surpresa, os resposáveis pelo futebol, leia-se ataque, e não pelo soccer, isso se acentua ainda mais quando Calazans diz: "Tentem esquecer que o Brasil não tem a sua melhor seleção de todos os tempos. Esta seleção que aqui está é inferior a pelo menos três seleções brasileiras que conquistaram títulos mundiais - as de 58, 62, 70 - e as duas que não conquistaram absolutamente nada: as de 50 e 82". Mesmo revendo a escalação com 3 volantes, onde o quarto meio campista era Zinho, caracterizado mais como carregador de piano do que pianista, eu tinha aquela seleção como muito ofensiva. Na crônica dia de futebol total as seguintes palavras de Parreira dizendo que "um time com apenas dois atacantes pode ser mais ofensivo do que um time com três"só me fazem ter esse sentimento romântico de que eu pude ver um timaço ser campeão.

Além das crônicas das copas de 90 e 94, o livro de Calazans trata de outros assuntos como o fim de algumas eras, vide Zico, Júnior e Maradona, histórias sobre Nilton Santos onde um ilustre goleiro não sabia seu nome além de momentos marcantes de outros esportes como o Pan de Havana, a tragédia de Senna entre outros.

Na última crônica do livro, Llosa e a criatividade, um clamor é feito pelo artista Vargas Llosa: ''Os brasileiros não deviam permitir que as estratégias e táticas do futebol tolhessem a criatividade e a liberdade de seus jogadores''. Simplesmente perfeito para os defensores do futebol carrancudo do outro lado do oceano.

Concordando ou não com o que aqui foi escrito, isso só reforça a ideia inicial do post: visão de jogo, cada um tem a sua.